O psicoterapeuta é um técnico? - Cristiane Jatene

 O perigo de acreditar que a terapia é realizada por um técnico e não por um ser humano que além do tempo de estudos formais e informais, da supervisão clínica e da terapia pessoal, não seja um ser humano que deve, para ser bom terapeuta, conhecer seus valores, preconceitos, sua ética, para que assim, e só assim, possa entrar no universo do seu paciente e ajudá-lo a conhecer-se e a conhecer suas possibilidades de escolha.


Quanto mais tempo de vida, analisada, permeada de meditações profundas e críticas, mais o terapeuta entende a condição humana. Quanto mais ligado às artes e conhecedor da poética da vida e dos seus talentos, mais o terapeuta é capaz de acompanhar seu paciente na descoberta de si, dos seus valores, preconceitos, possibilidades, limitações, dúvidas. 


Nenhum terapeuta é especialista na vida de alguém, na vida de um casal, de uma família, de uma comunidade. O terapeuta deve sim ser especialista em si e no máximo que puder saber sobre o corpo de conhecimento disponível sobre o ser humano. O terapeuta tem sua existência em jogo no processo terapêutico dos seus pacientes, porque o processo é construído em conjunto.


Uma terapeuta divorciada, que o ex-marido encontrou uma pessoa e que ao atender um homem casado e infeliz e que está apaixonado por outra pessoa e quer tomar uma decisão e induz o paciente a pender para sua relação atual, por identificar-se com a mulher com a qual ele está casado, não está exercendo a co-construção de um processo terapêutico. Esse e outros tipos de absurdos temos visto acontecer todos os dias. Quanto mais o paciente pensa que o terapeuta é um técnico como seria um mecânico de carros ou um engenheiro civil, mais passível de ser manipulado pelo suposto poder de saber do paciente ele fica.

Quanto mais o terapeuta quiser poder, menos terapeuta ele será.


Terapêutico é ser capaz de ampliar visões, abranger ângulos, não responder de forma fechada e vertical.


Estamos diante de uma situação muito delicada e que do mesmo modo que pode resultar em grande beleza, de desabrochar, frutificar, pode ser um processo deletério.


Estejamos atentos. Como pacientes. Como terapeutas.


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