Luz e sombra existenciais*
A Psicologia, em suas várias abordagens, fala, de diferentes formas, no que está oculto, inconsciente, velado, na sombra, e como o que está ali que precisa ser desvelado, descoberto, conhecido e entendido.
Jung falava que na metanoia da vida, que na época era por volta dos 40 anos e na contemporaneidade deve ser por volta dos 60 anos, tínhamos a oportunidade de integrarmos nossa sombra. Algo como tudo que nos chama, mas que não havíamos vivido até então, poderíamos, por exemplo, mudar de profissão, começar um “hobby” novo. Recomendo o pequeno livro da psiquiatra brasileira pioneira no uso da arte para internos psiquiátricos, Nise da Silveira, “Jung: Vida e Obra”.
A Psicanálise fala num inconsciente substantivado que teria o poder de governar as nossas vidas até desvendarmos esse manancial.
A Psicologia Comportamental fala em função do comportamento. A análise funcional teria o propósito de identificar qual a função de um comportamento considerado disfuncional.
A Terapia Narrativa diz que ao narrar a história do seu problema o paciente pode incluir um fato dissonante que poderá abrir a possibilidade de uma história alternativa da sua vida.
A minha abordagem, Fenomenologia-Existencial Hermenêutica fala que os fenômenos se mostram se velando, se dissimulando, se ocultando. O gerúndio aqui não é um gerundismo inadequado, errado ou a má tradução do inglês. O ser humano para nós é sendo. Porque não está acabado, porque é uma história em aberto, um jogo em curso. O existir humano não se mostra por inteiro. E a verdade que buscamos não é “veritás” (verificação) é “alethéia” (desvelamento)**.
Apesar de todas essas abordagens,vamos falar do que diz Mandela no texto “Nossos Medos”.
Mandela diz que o que nos amedronta é nosso brilho, é nossa luz e que nos apequenarmos para não intimidar os outros não é bom, bom é deixar que nossa luz brilhe e inspirar, dessa forma, que os outros deixem sua luz brilhar.
É uma perspectiva diferente e muito importante. Não se trata de exibicionismo, egocentrismo, brilhar pode ser muito discreto, muito calmo, porque esse brilho fala de uma harmonia de quem brilha consigo, com os chamados de sua consciência.
Caetano já disse na obra-prima “Gente”, que “gente é pra brilhar não pra morrer de fome”.
Muitas pessoas bem alimentadas podem estar famintas.
A pressão por ter (e/ou manter) um espaço social e profissional, por ter dinheiro, por buscar ou manter relações afetivo-sexuais com pouca ou nenhuma conexão, a busca de uma juventude eterna fantasiosa, as pressões profissionais, a insegurança do planeta, nosso habitar, em tantos âmbitos, pode nos manter apagados e famintos e com medo, como diz Mandela, da nossa luz, que não exige nada mais do que estarmos em acordo com nosso ser, único, original. Parece pouco, mas é muito. Além de muito, pode ser difícil. Por mais doloroso que seja, viver automaticamente, sem deixar a própria luz brilhar pode ser mais doloroso e, aparentemente, mais fácil.
A questão é se é possível se automatizar até findar ou se a luz tenta sair por todas as brechas que encontra.
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*Dedico este texto, escrito em 20/04/2025, ao Papa Francisco, um grande farol pelo avanço de uma humanidade mais luminosa e menos sombria, que partiu dia 21/04/2025.
**Sugiro a leitura do capítulo “Método” da minha pesquisa de mestrado para uma aproximação maior com a Fenomenologia-Existencial Hermenêutica. Link: https://repositorio.ulisboa.pt/handle/10400.5/98745
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