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Mostrando postagens de maio, 2025

O psicoterapeuta é um técnico? - Cristiane Jatene

  O perigo de acreditar que a terapia é realizada por um técnico e não por um ser humano que além do tempo de estudos formais e informais, da supervisão clínica e da terapia pessoal, não seja um ser humano que deve, para ser bom terapeuta, conhecer seus valores, preconceitos, sua ética, para que assim, e só assim, possa entrar no universo do seu paciente e ajudá-lo a conhecer-se e a conhecer suas possibilidades de escolha. Quanto mais tempo de vida, analisada, permeada de meditações profundas e críticas, mais o terapeuta entende a condição humana. Quanto mais ligado às artes e conhecedor da poética da vida e dos seus talentos, mais o terapeuta é capaz de acompanhar seu paciente na descoberta de si, dos seus valores, preconceitos, possibilidades, limitações, dúvidas.  Nenhum terapeuta é especialista na vida de alguém, na vida de um casal, de uma família, de uma comunidade. O terapeuta deve sim ser especialista em si e no máximo que puder saber sobre o corpo de conhecimento disp...

O que é a vida? - Cristiane Jatene

  No ano 2000, o ator Antônio Abujamra começou a apresentar o programa “Provoca”, na TV Cultura, e o fez até sua partida, em 2015. O programa foi retomado em 2019 e desde então vem sendo apresentado pelo multimídia Marcelo Tás. A famosa pergunta do final segue sendo a mesma para cada um e todos os entrevistados: “O que é a vida”? A cada momento ou fase de nossas vidas podemos responder de forma diferente, assim como cada pessoa responde de forma diferente. Por isso, há mais de duas décadas as respostas para a mesma pergunta são inúmeras. Prestes a completar 58 anos de vida, sendo terapeuta há mais de quinze anos, historiadora há mais de trinta anos, tendo feito quase tudo em termos de artes, meditação, autoconhecimento, incluindo absurdos trinta e oito anos de psicoterapia, me arrisco a dar uma possível resposta para esse meu momento. Falo como vivente e como terapeuta que acompanha a vida de viventes diversos. A vida é saber se parir, renascer, quantas vezes ela solicitar. Caso nã...

Ensaio sobre a memória e a identidade - Cristiane Jatene

          No filme "Eternamente Alice" (Still Alice) a personagem principal, interpretada por Julianne Moore, vítima de Alzheimer precoce, aos 50 anos, no auge de sua vida profissional, por um problema genético, nos mostra como se forma, o que chamamos de “nossa identidade” e como é  perdê-la. Num discurso, em uma associação para doentes como ela, explica que sem as próprias memórias não pode ser ela mesma. E o que seriam nossas memórias?  Numa resposta rápida e certeira, diria que é o que lembramos do que ainda somos e do que não somos mais. É lembrarmos, também, do que pensamos ser um dia, mas nunca fomos, lembrarmos do que queremos ser e do que temos sido. A memória tem a ver com nossa relação conosco. Com a significação e ressignificação que fazemos do do nosso arco existencial. A ressignificação do passado é sempre dada pelo que viemos a ser, pelo futuro. Podemos dizer que se não temos mais o que ressignificar, como uma folha em branco, é difícil ...

Onde mais? Todos os links! - Cristiane Jatene.

Canal do YouTube :  http://www.youtube.com/@cristianejatene1186 Instagram : http://www.intagram.com/cristiane.jatene 1) O link abaixo, da Universidade de Lisboa, refere-se a pesquisa sobre a resistência social pro-ciência contra a gestão anticiência da pandemia Covid-19, ocorrida no Brasil. O último anexo, anexo XI, refere-se a apresentação oral da pesquisa e é um resumo completo do trabalho: https://repositorio.ulisboa.pt/handle/10400.5/98745 2) Abaixo, todos os artigos sobre cinema e conjuntura política publicados no portal do Instituto de Cultura Árabe (ICARABE). Os artigos estão ordenados do mais novo para o mais antigo. - Artigo sobre o filme "Retrato de um certo Oriente" :  https://www.icarabe.org.br/cinema/retrato-de-um-certo-oriente-o-filme-e-mais-uma-parte-da-identidade-brasileira-perdida - Artigo sobre o filme "O professor", filme de abertura da Mostra Mundo Árabe de Cinema/ 2024 e Reflexões sobre a Palestina:  https://www.icarabe.org.br/cinema/artigo-m...

Os artistas, os tempos e as trilhas sonoras da minha vida - por Cristiane Jatene

Em abril de 2025, foi lançado o documentário "Ritas", que assisti no Cinesesc, durante a mostra de cinema documental "É tudo verdade", era a vida da Rita Lee, contada através da última entrevista dela. É emocionante, mas mais divertido do que triste. Em maio, "Ritas" passará a ser exibido nos cinemas, em todo o Brasil. Em maio de 2025, quando completa dois anos da partida de Rita, foi lançado o documentário "Rita Lee - Mania de você". No canal Max. Assisti hoje. É uma despedida. A carta de Rita para Roberto e os filhos, Beto, Joao e Antônio é lida e amigos contam sua experiência com ela. O documentário foi gravado há um mês da partida de Rita. Assisti hoje e chorei no final. "Tem que se preparar para este momento (partida de Rita) e não há preparo para isso"*, como diz Beto. A transformação sempre acontece e "a transformação da morte é sermos espírito", como diz a espiritualista (não religiosa, espiritualista) Rita. Pode-se fa...

Famílias contemporâneas sob a ótica dos filhos - por Cristiane Jatene

  Família nuclear, família binuclear e família plurinuclear Independente da configuração de sua família, todas as crianças terão uma família nuclear. A maioria das crianças terá uma família nuclear e binuclear e grande parte das crianças terá sua família nuclear, suas famílias binucleares e sua família plurinuclear (lanço esse termo). O termo “família nuclear” é usado para aqueles que moram juntos. Os adultos ou o adulto responsável pela ou pelas crianças. Família binuclear refere-se a família extensa quando a criança tem pais. Assim, a criança terá a família de cada um dos pais, ambas suas famílias. Portanto, a criança terá o direito de conviver com ambas as famílias, independentemente dos pais serem casados ou separados, independentemente dos pais quererem contato com suas famílias de origem, que são, como dissemos, as famílias extensas da criança (avós, tios, primos, tios-avós, etc.).  O termo família binuclear foi criado em substituição ao termo família monoparetnal, que r...

Terapia de Casal - por Cristiane Jatene

Na terapia de casal o paciente (ou cliente) é a relação . Os dois componentes do casal serão ouvidos em suas demandas, referentes a relação o e a outra parte do casal conjugal e parental, quando houver filhos. Nem sempre a demanada das duas pessoas que compõem o par conjugal é a mesma e o terapeuta precisa ser capaz de perceber a situação  para ajudar o c asal a perceber e encontrar  caminhos de saída. O terapeuta pratica a escuta terapêutica e procura facilitar o dialogo para que o casal tome as decisões que julgar mais adequadas, a partir da explicitação, em terapia, de seus recursos, possibilidades, limites e aspirações. A terapia de casal pode ser breve ou longa. Esse e outros pontos são decididos em conjunto, em sessão terapêutica entre casal e terapeuta. Determinados casais chegam para cuidar de temas específicos e acontece uma terapia focal (por volta de vinte a quarenta sessões), alguns chegam para demandas específicas, mas ao longo do processo decidem se aprofunda...

Ney Matogrosso e Rita Lee - crianças nobres irmãs

Impactada pelo filme sobre a vida e obra de Ney Matogrosso e, especialmente, por sua vida e sua postura diante da vida, que o fez sobreviver a um pai violento, a uma ditadura militar e a AIDS, cheguei em casa e assisti a uma entrevista do Ney no qual ele é perguntado sobre sua relação com sua amiga Rita Lee (Ney foi quem levou Roberto de Carvalho à  casa de Rita, para o jantar que selou o casal e a parceria musical). Ney respondeu que Rita era estranha, reservada, disse que teve um sonho muito forte no qual duas criancas, ele e Rita, eram irmãos e estavam andando no chão de um subsolo todo forrado de pedras preciosas que subiam pelas paredes, eles seriam filhos de algum homem muito poderoso. Ney disse que poderia parecer loucura, mas, pela força do sonho, ele até hoje os considera irmãos. Para quem acompanhou a vida artística dos dois, ou assistiu o filme “Homem com H” e leu a autobiografia de Rita “Uma autobiografia” e sua tanatogradia “Outra biografia” é fácil identificar similar...

Os fardos que nos impomos carregar - e a aceitação que nos alforria.

  Era famosa uma mulher em situação de rua, no bairro de Pinheiros, em São Paulo. Ela carregava quatro fardos grandes e se locomovia à medida que os colocava à frente. Colocava um deles à frente, depois os outros três. Quando estavam os quatro no mesmo ponto ela os alcançava e recomeçava o trabalho. A medida de seu próprio alcance como pessoa era fornecida pelos fardos. Até onde ela poderia carregá-los era até onde ela iria.  A situação é curiosa porque ela não os largava, ela escolhera carregá-los, mas eram eles que definiam sua mobilidade. Lembrei dessa história pensando em o quanto nos pesam a ingratidão de pessoas às quais dedicamos amor e compromisso e nos devolveram indiferença. Podemos carregar indignação, perplexidade, mágoa e esses sentimentos pesam e definem até onde conseguiremos caminhar, navegar, voar, amar, nos comprometermos, confiar (fiar junto). Às vezes a indiferença chega direto, sem a escala da ingratidão. Alguém que está no topo da nossa lista e nã...